segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Cemitério de pescadores da Taíba

Três cruzes em frente ao mar.
Três cruzes sem nomes nelas.
Três cruzes no cemitério
em que ninguém mais se enterra.

Três cruzes mirando o mar,
sem um braço duas delas,
sem cuidado de parente,
sem que as crianças as temam.

Três cruzes em frente ao mar
como três mastros sem vela,
vazias de vozes, de gestos,
vazias da morte nelas.

Menos mortas porque, nelas,
a morte cumpre seu mistério,
consumindo-se em seu centro,
como se cumpre uma estrela.

Ou as três como uma tela
abstrata, geométrica.
A morte mínima e bela:
mais linha do que objeto.

Ou as três como sinais,
padrões plantados na areia,
opondo ao céu a aventura
humana que as três encerram.

Três cruzes negras de sal
sobre uma duna pequena,
já quase que submersas:
três mortes que desconheço.

Um foi ao mar, virou o vento.
Outro foi faca, e de surpresa.
O outro sonhava, longevo,
sua cruz entre companheiras.

Três mortes multiplicando
com três cruzes indefesas
o sal da morte na tarde,
seu gosto de sol em mim mesmo.

Três cruzes em frente ao mar
que esperam, vigiam, secam.
E um gavião sobre elas
testando o ar ascendente.

Nenhum comentário: