segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Dois sonetos de amor

Do amor antigo

Do amor antigo te direi somente
que foi antigo já quando não era
ainda amor, e, ainda amor, espera,
como um brinquedo desaparecido.

Dele não sei senão o que pressente
o antigo coração que lhe resiste,
e a quem parece exausto quando triste,
e triste (quando apenas renascido).

Ouço as palavras que me diz, e entanto
não te posso dizer se ainda as mereço,
nem sei, depois de ouvi-las, se as ouvi.

O amor antigo te darei, conquanto
não saiba se sou eu que o ofereço,
nem saiba se foi meu quando o vivi.


Uma teoria do centro

É que é do mar o azul, o movimento,
e é do fogo o frio azul do centro,
e é do espelho um outro espelho dentro,
e dentro da palavra o esquecimento.

É que é do ar a obrigação do vento,
e é do gato o salto, a indiferença,
e é do polígono a circunferência
como da morte cada pensamento.

É que é da cor a luz, da chama o vento
como da voz o arrependimento,
como do tempo ser um outro e o mesmo.

É que é do amor o fogo, o frio, e dentro
de seu espelho a combustão de um centro:
seu ser exato quando ainda a esmo.

2 comentários:

Divã da boêmia disse...

"O amor antigo te darei, conquanto
não saiba se sou eu que o ofereço,
nem saiba se foi meu quando o vivi." Lembra Drummond

Eduarda disse...

"O amor antigo te darei, conquanto
não saiba se sou eu que o ofereço,
nem saiba se foi meu quando o vivi."
O meu preferido.