quinta-feira, 29 de julho de 2010

19
(dois sonhos)

I

Às vezes lembrava, às vezes não.
Lembrava a casa entre as papoulas,
a casa branca, antiga, sem chão.

Nas noites de não, ela o visitava.

Lembrava às vezes que flutuara
no campo em torno e sobre um cão
de olhos vazados vertendo som.

Às vezes lembrava, às vezes não.
Lembrava a menina de short, descalça,
correndo na chuva em torno da casa.

Nas noites de não, ela o visitava.

Nas noites de não, ela o sonhava,
ele menino, ele e um cão
olhando juntos a enxurrada.

II

Lembrava às vezes, às vezes não.
Nas noites de não, ele a sonhava,
entrando molhada, afagando um cão.

Nas noites de não, ela o sonhava,
depois não lembrava, a não ser de um vão,
quente e oculto sob a antiga escada.

Às vezes lembrava, às vezes não,
senão que sentia, quando acordava
que flutuara, dissera um não.

Nas noites de não, se visitavam.

Os corpos trêmulos, sob a escada,
os corpos ungidos por aquela casa,
por aquele nada dos olhos de um cão.

Nenhum comentário: