quinta-feira, 29 de julho de 2010

25
(Lázaro)

I

Às vezes lembrava,
às vezes não,
os nomes à mesa,
os nomes das coisas,
o gosto do pão.

Às vezes achava
que tinha sonhado
o frio, a caverna,
a brisa da treva,
a pedra rolada.

Às vezes pensava
que agora sonhava:
por isso que as falhas,
por isso os estranhos,
os tantos olhares.


II

Diziam as irmãs
(assim se anunciavam)
que a voz voltaria
(que voz não sabia),
não se preocupasse.

Disseram-lhe os sábios
que fora escolhido
para outra jornada
(e pouco entendia
tão fundas imagens).

Mas a voz que ouvira,
a que obedecera
alheio à vontade,
a que falta à mesa,
já não lhe falava.


III

Às vezes lembrava,
às  vezes não,
por que caminhara,
por que se afastara
das mesas, das casas.

Às vezes lembrava
da vaga jornada
ao deserto insone
que a cada alvorada
o pacificava.

Às vezes julgava
ouvi-lo falar,
chamar por seu nome.
Sonhava-se um anjo,
areia, luar.


IV

Às vezes lembrava,
às vezes não,
o nome deserto,
que nome tivera,
que nome chamar.

Cada vez mais sonha
um sonho em que, anjo,
caminha soberbo
entre esgares até
uma voz que o quer.

À mesa dos loucos
sorri complacente,
ouve histórias sem nexo
de um deus
e de um homem ressurrectos.

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